quinta-feira, 11 de julho de 2013

" Não confundir a política com um menu de restaurante "

Com o devido respeito reproduzimos, em baixo, um artigo da autoria de Henrique Monteiro. Fazemo-lo, pela  importância que  atribuímos ao tema  e pela admiração  que vimos desenvolvendo por  este lúcido  Português . Pela nossa parte uma grande OBRIGADO !  






Se me permite, eu chamo-lhe a EXCEPÇÃO ! 



" Cavaco: O surpreendente bom senso (com PS atualizado)


1. Cavaco Silva conseguiu surpreender os portugueses e os partidos políticos com a sua comunicação ao país. E isso é raro, senão inédito em Cavaco.
2. A solução preconizada pelo Presidente é de um bom senso total. O que ele diz é tão simples como isto: os partidos que subscreveram o acordo com a troika devem entender-se para a sua concretização. E mais: devem entender-se sobre o modo como continuarão a gerir o país depois de reconquistada a soberania nacional e mesmo depois de eleições (que podem e devem realizar-se depois da partida da troika)
3. Cavaco reconheceu algo óbvio que certos partidos e personalidades parecem esquecer (v.g. Paulo Portas): que Portugal não tem soberania suficiente para fazer o que entende e está amarrado a compromissos internacionais.
4. Cavaco descreveu com grande simplicidade e verdade os problemas que a ideia das eleições já, ou seja, em setembro, acarretam.
5.Cavaco afirmou, com grande clareza que há várias soluções (até porque ele entende, e bem, que a sede da democracia reside no Parlamento), mas que na sua opinião nenhuma "dará as mesmas garantias de estabilidade que permitam olhar o futuro com confiança igual à da proposta" que ele próprio apresentou. 
6. Ao envolver o PS no acordo, o Presidente sinaliza, claramente, que o errado afastamento do PS das decisões nacionais não é, nem nunca foi, da sua responsabilidade. Se o PS recusar, ser-lhe-á lembrado que não está no centro das decisões por vontade própria. Se o PS for mais inteligente e aceitar o compromisso, obrigará Passos Coelho a mudar o seu estilo de governação. Cavaco acabou com um jogo de sombras que PSD (com menos sentido de Estado) e PS (com mais) jogavam. Os sociais-democratas excluíam os socialistas de tudo e estes, agradecendo nada terem a ver com a execução do programa da troika, protestavam porque eram excluídos.
7. O que Cavaco fez ontem, já o devia ter feito há um ano, pelo menos. Confesso que, pessoalmente, já desesperava por um apelo ao entendimento dos subscritores do Memorando.
8. Foi lamentável que quase ninguém, nos momentos seguintes à declaração de Cavaco pareça ter percebido o que ele disse. Chegou-se a falar de Governo com o PS ou vetos ao Governo PSD/CDS como se isso decorresse do discurso. 
9. Os partidos ainda não disseram nada de jeito em resposta ao Presidente. 
10. Claro que podemos concordar ou discordar do Chefe do Estado. Ou até achar que ele fez bem o diagnóstico, mas andou mal na terapêutica. O que não é tolerável é dizer que a solução não é democrática. Do mesmo modo que Jorge Sampaio entendeu -e bem - dissolver o Parlamento na altura do Governo Santana Lopes, numa decisão obviamente democrática, também Cavaco o poderia fazer agora. Mas tal como Sampaio, na altura, estaria a apostar que uma solução substancialmente diferente surgiria. Depois de Santana, veio Sócrates com uma maioria absoluta. Alguém crê em algo semelhante neste momento?
11. Por isso, caros comentadores e políticos, que se acham sempre intelectual e democraticamente superiores ao homem de Boliqueime, saibam ser democratas. A democracia caracteriza-se não pelo que cada um de vós decide que é a democracia, mas por um conjunto de regras estabelecidas e aceites por todos. E o que o Presidente fez está, inteira e integralmente, dentro dessas regras! Eu sei que alguns dizem: ah, mas democracia não é só eleições de quatro em quatro anos. Pois não! Mas também não é eleições quando alguém pede ou eleições de vez em quando porque alguém grita que o Governo não presta. Democracia é deixar expressar na rua e na Comunicação Social todas as opiniões. É saber ouvir os partidos, é saber que o Parlamento é o centro do poder! É saber que o árbitro é o Presidente da República legitimamente eleito (escrevo outra vez porque há gente que esqueceu - legitimamente eleito pelo voto popular). Democracia é também respeitar o árbitro!
12. Cavaco está, de facto, de parabéns! Acho que nunca pensei escrever isto.

PS (atualizado) 1 - Parece que há muita gente preocupada com o facto de Cavaco não ter dito o que faz se a sua proposta falhar. Recordo que é absolutamente normal alguém fazer uma proposta e a seguir dizer: bem, se isto falhar, também temos isto e isto. Não será confundir a política com um menu de restaurante? Na cabeça de muitos comentadores é o que parece...   "

PS ( do Blogger ): Com portugueses assim, Portugal Vale a Pena !...

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