terça-feira, 16 de julho de 2013

Fio de Prumo - Velhos não são trapos


Numa época em que o  cinismo  e a hipocrisia são a regra da maioria dos  interventores públicos,  é uma  "benção" encontrar pessoas com a coragem  e a lucidez  de Paulo Morais. Que o futuro lhe permita afirmar as suas ideias . 

Por Paulo Morais, Professor Universitário
Os reformados e pensionistas viram os seus rendimentos brutalmente reduzidos nos últimos anos. São chamados a pagar os custos duma crise para a qual em nada contribuíram. O seu rendimento disponível cai por via da redução do valor das pensões, da tributação por IRS, do aumento do IVA e do preço dos transportes ou até da introdução de portagens nas SCUT.
O reequilíbrio das finanças públicas jamais se deveria fazer à custa dos mais idosos. É inquestionável que o estado tem que reequilibrar as suas contas. Se a colecta anda na ordem dos sessenta mil milhões e a despesa nos setenta, tem de se tapar este gigantesco buraco. Mas antes de atacarem os rendimentos dos reformados e pensionistas, os governos têm de reduzir a despesa com as famigeradas parcerias público-privadas; devem ainda diminuir o custo dos juros da dívida pública, que orçam em muitos milhares de milhões; impõe-se ainda a eliminação de despesa pública inútil como subsídios a fundações-fantasma; e a redução de custos exagerados, como o de rendas imobiliárias de favor que o estado paga um pouco por todo o País. Carente de receita, o estado deve ainda tributar de forma justa o património dos especuladores imobiliários, isento de IMI e de IMT porque titulado em fundos de imobiliário fechados. Estas seriam algumas das medidas a tomar, muito antes de penalizar os mais idosos. O que se deve evitar a todo o custo.
Por regra, os rendimentos dos mais idosos deverão ser intocáveis. Em primeiro lugar, porque é um direito que lhes assiste. Em segundo, porque não se pode alterar a previsibilidade económica do quotidiano de quem tem mais de setenta ou oitenta anos. É cruel, e a crueldade é socialmente inadmissível na nossa matriz civilizacional, em que uma das maiores conquistas é exactamente o aumento da esperança média de vida e o envelhecimento com tranquilidade e em condições mínimas de conforto.

Uma sociedade não pode colocar os velhos na posição de culpados por não terem morrido mais cedo. O respeito pelos mais velhos é uma questão até de sobrevivência da civilização. Pois numa sociedade em que os velhos não têm presente, os jovens sabem que não terão futuro.


Publicado no Correio da Manhã, de 25-06.2013

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